Naquele que é o aniversário de uma data mais importante da
história portuguesa moderna, onde importa pensar em frente, nestes tempos
difíceis, mais do que nunca, é importante avivar abril quando se depara um
cenário imediato pouco auspicioso e se colocam em cima da mesa soluções tão
gravosas como a da geo-localização, em que os sindicatos estão alheados da
discussão política e as greves estão impedidas, é imperioso que não sejamos
capturados pelo medo e continuemos com apego à liberdade. lembrar que, nos dias
de hoje, nem todas as conquistas de Abril são dados adquiridos. O medo sempre
foi terreno fértil para a implementação de soluções draconianas e, em última
instância, da instauração de ditaduras. Devemos ter medo sim, mas não podemos
ser capturados por ele sob pena de não reconhecermos a sociedade pós-pandemia.
Felizmente houve muitas outras coisas que mudaram após 25 de abril de 1974, e
são tantos os direitos que, dados como adquiridos nos dias de hoje, eram
impensáveis antes dessa data, portanto, quando nos dizem a evolução que houve,
é algo inevitável, que é fruto da condição humana, que o seu contrário seria
uma utopia – mesmo que o seu contrário seja apenas querer que todos possamos viver
condignamente – é importante que tenhamos presente que não, não tem que ser
assim. Que, tal como há tão poucos anos atrás, tudo o que foi alcançado seria
impensável ao comum cidadão português da época, atualmente mesmo com esta crise
sanitária podemos melhorar muito o Portugal que temos seguindo os princípios
iniciados em abril de 1974.Só partindo da noção de que aquilo que temos, não é
perfeito podemos caminhar nessa direção, para que nos possamos aproximar o mais
possível daquilo que, efetivamente, está ao nosso alcance. Lutemos, portanto,
para que, no futuro, as coisas se tornem melhores do que são hoje e saibamos
estar unidos num interesse patriótico, atentos às necessidades de cada um, onde
haja não só igualdade, liberdade, mas também uma melhor equidade. Temos
consciência que momentos de crise são seguidos de um maior acirramento da
exploração do homem e serão ainda maiores as dificuldades das populações mais
desfavorecidas e mais pobres, que atualmente já vão sentindo em cada dia que
passa neste confinamento.
Celebrar o 25 de Abril não é dividir, pelo contrário é unir
num momento muito importante para o país, uma data que nos une em algo comum,
na celebração não de um dia, mas de décadas de luta antifascista e pela
liberdade. Dividir pretendem aqueles, curiosamente que nunca foram entusiastas
da comemoração de abril e, incentivam num populismo demagogo neste tempo de exceção,
tirar proveito de contaminação ideológica. É uma posição muito fácil de
defender perante uma sociedade alarmada, receosa do presente e com medo do
futuro, contudo o que é exigido aos partidos é que transmitam outra coisa à
população, uma sensação de confiança para estes e para os tempos vindouros.
À medida que a pandemia progride compreende-se e admite-se a
importância do trabalho e dos trabalhadores como a real fonte de riqueza dum
país (um despertar tardio) e ninguém desta vez lha pode imputar. Este momento
de crise como a que vivemos está longe de ser uma crise convencional, tem
exposto os efeitos tóxicos do sistema que domina há já longo tempo todos os
aspetos das nossas sociedades. o neoliberalismo, como ideologia económica
inserida no capitalismo, tem causado a depleção dos serviços públicos; tem
transformado o ensino e os cuidados de saúde em negócios que visam o lucro; tem
permitido o açambarcamento de lucros à custa da desvalorização profissional e
salarial dos trabalhadores; tem favorecido a lucratividade de um mundo
militarizado por contraposição à promoção da segurança humana e do bem-estar
social e tem agravado as desigualdades entre as pessoas e os países.
Efetivamente foi um golpe violento no paradigma neoliberal e na globalização
económica desenfreada, onde se perfazia como ideário exacerbante do
individualismo, desfazendo, lentamente, os laços de solidariedade capazes de
assegurar coesão ao tecido social numa teia de relações construídas por
heterogéneas realidades. Durante décadas temos sido bombardeados com a
narrativa sobre a ineficiência das instituições públicas e a sua alegada
incapacidade para fornecer serviços de forma eficiente, racional e rentável.
Basta pensarmos os ataques que se fizeram ao SNS, desguarnecido e desprovido de
meios, para benefício do Sector privado da Saúde. Apesar disso, nesta crise, O
Sistema Nacional de Saúde, uma das conquistas de Abril, tem correspondido à
gravidade destes tempos, dando o exemplo de como um SNS público é essencial
para responder às necessidades normais ou excecionais deste país. A saúde
estará sempre em primeiro lugar e tudo devemos fazer para controlar a pandemia
e evitar que mais compatriotas morram vítimas deste vírus. No entanto, é
importante não esquecer que vivemos num estado democrático e que nenhum estado
de exceção vale a amputação da nossa liberdade coletiva.
Assim impera a capacidade de reinventar o presente e o
futuro, como tempo propício à revitalização da economia, à construção de
relações sociais menos desiguais e ao cumprimento de expectativas civilizacionais,
que nos fortalecerão enquanto país unido por vínculos de solidariedade, num
conjunto no qual o Estado Social tem um papel imprescindível e isso será
continuar os ideais que 25 abril de 1974 iniciou.
Pensem nisso!
Viva o 25 Abril!
Viva Portugal!