Ouvir é um dos sentidos que nos permite enquadrar no mundo. A
falta de audição inviabiliza um entrosamento total no que nos rodeia. Por
acharmos importante enquadrarmo-nos na realidade do concelho solicitamos aos
organismos e coletividades do concelho reuniões para os ouvir e nos
enquadrarmos numa realidade mais assertiva. Encetámos algumas dessas reuniões
donde resultaram mais-valias para o nosso conhecimento e programa, como foram o
caso da AIREV e do Coração Azul e com certeza as outras que temos agendado também
o serão. Fomos ouvir para melhor perceber, longe dos holofotes do populismo ou
do barulho da ribalta. O barulho nem sempre está do lado da razão ou da objetividade.
A maioria das vezes serve pra distrair, dividir ou mesmo dispersar. No barulho
pode-se fazer música mas não passa de arpejos básicos enquadrado num ritmo
cadenciado e pobre que apesar de entrar facilmente no ouvido está longe de ser
música capaz de enlevar ideias ou objetivos. A música é mais do que isso porque
só podemos realmente fazer música se nos debruçarmos sobre a árdua tarefa de
saber solfejo. Insistindo num princípio básico de confundir barulho com música
corríamos o risco civilizacional da música clássica ser uma simples batida de
tambores aborígenes. Não porque eles não sejam importantes mas porque foram
esboços do que civilizacionalmente desencadeou a música. O barulho do rufar dos
tambores sinaliza festejos mas também propósitos de guerra Perdermo-nos com
barulhos é como criar uma tela opaca com uma grande quantidade de etiquetas,
conceitos, palavras, julgamentos, imagens que bloqueiam a verdadeira essência e
resolução das coisas. Assim o barulho tolhe e condiciona a um autismo cada vez
mais ensurdecedor induz a uma primitividade de respostas e são executadas
medidas avulsas e decisões precipitadas ou desenquadradas porque não se
consegue o silêncio natural para ouvir os outros e compartilhar ideias. Tal
tabuleiro de xadrez onde, as peças estão em luta umas com as outras, enquanto o
tabuleiro tem apenas o papel de observador e palco de luta. O tabuleiro nada ganha
com essa luta, mas as peças que estão em combate, algumas delas vão sendo
eliminadas, no fim do jogo o tabuleiro fica mais pobre menos preenchido, até ao
próximo jogo onde as peças se reúnem de novo.
Pensem Nisso
António Veiga