Silêncios

Para uma amiga que teve uma grande perda:






As frases têm pausas
ganhos nos silêncios 
das palavras, 
em cada palavra
perdemos-nos nos pensamentos.
Criamos vidas reais
locatárias das ideias,
Perdemos o rumo
nas frases fatídicas da vida, 
urdidas no laborioso 
rito do destino
que inventamos.
Gerimos silêncios pétreos 
como quietas estátuas, 
quando sentimos 
que a mão da morte 
nos pousa no ombro.
As palavras 
desvanecem-se, 
apagam-se... 
Intensamente 
fitamos-nos,
enquanto trémulos
Os ruídos da vida 
incendeiam 
o despertar de existir,
descobrimos 
em nós mesmos 
tesouros que compensam 
o silêncio da perda.
Afinal vivemos 
a vida entre dois silêncios: 
antes de nascer e após a morte.

António Veiga, in poemas Completos

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