Até a ave sai do ovo, sendo ele o seu mundo, para viver precisa-se sair do mundo que nos cinge. Tornam-se ilusórios esses mundos circunscritos, dão falsos atributos. Sentimo-nos poderosos na ocultação das nossas fraquezas, numa vida copiada de outros, deixamos que eles decidam as nossas vidas para de uma forma acutilante podermos imputar culpas. Seguimos os mais fáceis, ou seja, aqueles que dizem o que queremos ouvir ou fazem o que gostaríamos de fazer. Fica fácil a crítica deslavada e a maledicência, ser do contra numa fervorosa convicção e atitude vaga de sentido altruísta. Insurgem-se contra a corrupção, mas vivem no submundo da oportunidade para a cunha, o favor ou "conhecimento". Somos uma geração com medo de assumir as rédeas das próprias vidas. E, assim, temos permitido que outros sejam protagonistas destas. É preciso coragem para retomá-las e viver segundo aquilo que arde dentro de nós, mesmo que sejamos vistos como loucos, pois só assim conseguiremos sair das depressões que nos encontramos.
O passar do tempo e da idade supostamente permite-nos aguçar a paciência para compreender, sensatez para ceder, confiança para crescer, carinho para cativar, sinceridade para pressupor, humildade para discernir, atitude para conceber. Mas, o tempo também nos dececiona e simultaneamente enclausura-nos em frustrações. Neste caminho único e de apenas dum sentido vamos atropelando o tempo envoltos em esperança, porque tal como diz o povo não há vida sem esperança. A esperança é troncal ao viver, não se esvai na ilusão paliativa e também não se confunde com o sonho ou desejo porque não se dissolve neles. Na verdade, podemos ter o sonho ou o desejo de sermos donos do mundo, mas a esperança que isso aconteça é ínfima. O desejo é apenas um componente da esperança, nunca um produto acabado. A esperança é racional e muitas vezes ditada pela voz do coração que lhe imprime sentimentos. A atual superficialidade de existir da maioria das pessoas, que lhe é inculcada a uma velocidade estonteante, vive-se a pedalar furiosamente enquanto nos incitam para atingir velocidades supersónicas e obcecados num sucesso de atingir tal velocidade sem meios. Iludidos continuamos a pedalar tentando alcançar mais velocidade. Trabalhamos mais para ter os meios para atingir mais velocidade, perdemos saúde para ter dinheiro e logo de seguida perdemos o dinheiro, para termos: saúde. Pensamos tão ansiosamente no sucesso que esquecemos quem somos e o que realmente queremos, vivemos como se nunca fôssemos morrer e morremos como se nunca tivéssemos vivido.
Confundidos entre a esperança e o desejo definhamos numa escalada coletiva para um desespero comum ou uma descartabilidade oportuna. Insurgem-se os vendedores de sonhos, tacitamente adormecem-nos e revisitam-nos em pesadelos. Eu desperto e exorcizo-me desse mundo, tal como José Régio, não rumo essas "regras, tratados, e filósofos, e sábios. Eu tenho a minha Loucura! Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura e sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios". No meu parco valor tributável neste inebriado existir, recuso-me ser mais um correligionário porque serei eu a "desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! O mais que faço não vale nada”. Nesse exíguo valor serei sempre a voz valorada da crítica com alternativas, sem nunca ser a critica pela critica, mas farolada pelos princípios que acredito de liberdade, igualdade de direitos e oportunidades. Neste mundo, hoje, triste e acomodado, acredito num mundo imaginado, sem pobres a morar em zona demarcada, ou de gente a esconder a sua pobreza entre coisas, imagens e bens, por tudo isso tenho vontade de nascer amanhã, porque quem nascer fora do seu tempo, não tem direito a nada.
Penso nisso
